retalhos cerzidos

"eles passarão... eu passarinho"

Textos


Oi Filho.

Embora completamente sem prática de escrita, sem parecer piegas nem nada pretendo ser breve e definitivo contrapondo o que outro dia você disse de mim, de eu ser “lulista sem saber”, ou seja, politicamente enrustido.

   Pra me ajudar, a seguir eu envio “Dino contra voto eletrônico? Lula é comunista?”, vídeo do Maurício Ricardo, “Fala, M.R.”, no YouTube, do próprio. https://youtu.be/x72OuFIChLg

   Ali o cara expressa o que pensa sobre essa confusão generalizada e diz tintim por tintim o que penso, eu, Germino, e dizendo quase que literalmente o que penso, diz o que sinto. Ele fala o que penso desde há muito, desde bem antes dessa maré idiotizada e escrota. A fala dele se assemelha à minha, a mim, desde quando eu nem não lia jornal, livro algum, não tinha televisão nem internet... Eu cá agarrado às próprias deficiências tentava um quefazer. Perdido, estava num mundinho emaranhado e alheio de quaisquer coisas — em muitos aspectos, também de mim mesmo.

   Assim, dessa forma, num clima de baixa intimidade com o mundo exterior, eu fiquei desde 2012 bastante injuriado com tudo e principalmente com todos. Como consolo, não sei, talvez assim tenha preservado a dignidade de minha identidade.

   Dez anos — 2012-2022. Na idade que estou, 10 anos é um bocado de tempo.

   Eu nada sabia, não apenas sobre política, mas de gente saindo do armário vomitando absurdos fascista, sobre costumes, preconceitos e o escambau. Sinais do tempo — mentiras e ódio. Achava que nem não existia mais questões entre esquerda e direita, que tais conceitos estariam há muito ultrapassados... Grande engano: hoje, mais do que no tempo da guerra fria ou da ditadura dos milicos aqui, hoje os ânimos estão extremamente acirrados, violentos. Tamanho era o exílio, alheado eu boiava mais do que qualquer alienado e cagava pra tudo. Já em 2018, quando enfim soube que não tinha qualquer problema neurológico me azucrinando, deficiências cognitivas que, ainda que não as tivesse, a possibilidade de as ter me desestabilizaram emocionalmente (sei que é difícil prum de fora mensurar). Mas não, sim, tenho diplopia, visão dupla. Aí eu te agradeço, e muito, pela ajuda financeira e moral pra encontrar o diagnóstico, a solução, me acompanhando e pagando consultas, tamanha dificuldade que tinha de entendê-las e de bancá-las. Em 2021, em plena pandemia, então eu despertei. Já de óculos, a internet chega, o hipertireoidismo se estabiliza, desarranjos pessoais amainaram-se e, por conta própria, até desmamei e parei com o antidepressivo cloridato de paroxetina, na, pra mim, significativa viagem que fizemos ao Pantanal.

   No entanto, não se recupera duma perturbação psicológica/emocional assim, no tranco. Pelo menos eu não consegui. Só agora engato uma lenta e tô indo, ainda que titubeante...

   Voltando, eis que dou com a realidade cruel, escrota, e me espanto com o escancarado. Veio o inominável besta-fera, que, depois de tanto estrago, finalmente, hoje, julho de 2023, o genocida está inelegível. É, e ele ainda vai em cana — vai, sim! — numa jaula juntinho aos de sua laia. Senão na Papuda ou em Bangu, vai pra trás de grades internacionais, e, em seu rastro, no aguardo estarão as 700 mil almas penadas pandêmicas a puxar-lhe o pé pro e jogá-lo no esgoto... “Tudo em nome de Jesus”.

   Entre a esquerda e a direita, sem extremismo algum eu sou, sim, socialmente eu sou de esquerda, mas jamais me deixei contaminar pela doença infantil do esquerdismo, como Lênin diria. No entanto, torço — e muito! — pra que esta frente ampla que travou o ativismo fascista, a frente que ora governa o país, torço pra que aprume o desmantelo feito em todas as camadas do Estado e da Sociedade brasileira, torço pra que enfim tudo dê certo. Recuperar o esfacelamento social, familiar, das pessoais... Isso levará anos. Mais ainda, e principalmente, torço demais pra que estas radicalizações generalizadas e estúpidas da extrema direita e também a da esquerda não sejam mais banalizadas, mas erradicadas.

   Definitivamente, eu não sou lulista nem petista... Já fui, sim, e com bastante orgulho, quando na ditadura militar aquele era um aguerrido sindicalista, e admirei-o ainda mais quando fundou o partido; considerei-o e nele votei na sua disputa à presidência contra o maceioense cheirante, este hoje e tardiamente no xilindró. Desta eleião pra cá eu não votei nem justifiquei — paguo multa... Desde então, alheei-me da política — sem me alienar — e me restringi às abelhas, principalmente à geleia real...

   A vez do promíscuo Moro e a de sua gangue de procuradores lavajatista, os responsáveis pela obstinação antilulista de psicose delirante sobre comunismo, personagens que fizeram ascender a besta-fera e a corja de políticos completamente ordinários, a vez desses crápulas chegará.

   Dali até aqui, a agora, eu me afasto completamente da baixaria da política partidária.

   Bem. Hoje, 2023, já há muito sem as saudosas aladas (desisti de tentar resgatá-las), hoje eu sou tão-só, e só, um velho paiolvelhence tentando recuperar a minha terra de 4.000 m2 degradada e natural e ecologicamente desenvolvo uma horta. Podei várias árvores ao Norte pra que entre a luz do Sol no sistema, passei uns anos plantando leguminosas e capins etc. como adubação verde, deixando tudo crescer pra então cortar e se decompor alimentando a biota, a vida no solo, este sempre coberto com matéria orgânica a alimentar os micro e meso organismos. Na próxima primavera, com a terra mais gorda, eu acho que já dá pra plantar alguma coisa de comer e começarei com MILPA, ou “Três Irmãs”, estratégia pré-colombiana para produção de alimentos usada pelos povos nativos latino-americanos há mais de 5 mil anos, num consórcio entre milho mais feijão e abóbora. Nas faixas divisórias dos talhões onde serão cultivadas as hortaliças, faixas de metro e meio por 50m, planto plantas pra compostagem que quando compostadas adubarão as hortaliças no plantio direto, de revolvimento mínimo.

   Por fim, Filho, peço que reserve uns minutos e atento escute/veja o vídeo que envio. Se possível, vá aos links, ao menos o da Natuza Nery com o filósofo Marcos Nobre.

   Beijo. Até.

   Pai

   Em tempo: como se vê, não consegui a concisão — pouco mais que duas páginas! — tamanha complexidade. Mas já melhorei um tanto.

   Em tempo II: outro dia vindo de trem aí do Rio, lá em Japeri, aguardando o ônibus pra subir pra Paty, numa lanchonete eu fui ao freezer da Nestlé e dei com o picolé KitKat, novo pra mim. Caramba! Catei-o e perguntei à dona quanto é, e ela, 14 Reais. Peguei um de chocolate por 7 pratas. Ontem eu recebi a merreca do benefício do INSS e zuni à padaria... Nossa, não é um chocomenta feito o do Itália nem nada, mas é uma delícia! Recomendo.

 

Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 07/07/2023
Alterado em 17/07/2023


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