retalhos cerzidos

"eles passarão... eu passarinho"

Textos


Avenida Brazuca, de Agamenon Mendes Pedreira

O Brasil inteiro, do Oiapoque a Ma­rilena Chauí, pa­rou na sexta-feira para assistir ao eletrizante capí­tulo terminal da novela “Avenida Brasil”. E eu e Isaura, a minha patroa, como casal de nove­leiros, abandonamos a nossa agitada vida sexual só pra não perder esse grande acontecimento cultural. Na casa de suingue Spettu’s, que fre­quentamos religiosamente toda sex­ta-feira, os frequentadores interrom­peram seus coitus para acompanhar no telão as aventuras de Tufão, Car­minha, Leleco, Suellen, Monalisa, Nina e Juca de Oliveira, o Albieri, que só apareceu no final da novela pra in­terpretar o canalha pai da Carminha, provando que, nas novelas brasilei­ras, a maldade é uma coisa genética. Apesar de ser uma novela hiperneorealista, “Avenida Brasília” era uma obra de ficção imaginativa, cheia de cascatas inverossímeis. Além de a Ni­na desconhecer a existência do pen drive, a malvada Carminha não co­nhecia o nome de nenhum bom ad­vogado pra levar a metade da fortuna do Tufão depois que foi expulsa da mansão. Aliás, mais uma vez mais brilhou o ator Murilo Bomnício no papel de corno contumaz. Quer di­zer, contuMax. Não sei por que, mas eu me identifiquei muito com esse chifrudo personagem suburbano. Talvez por ele ser um ex-craque e eu um escroque... O ex-jogador do Divi­no engrandeceu a cornitude, tão marginalizada pela opinião pública brasileira. Mas o Tufão não estava nem aí, mesmo porque, como ex-jo­gador de futebol, estava acostumado a levar bola nas costas.
  Quem não é o BRT mas também ar­rebentou foi a grande Adriana que, mais uma vez, Esteves sensacional no papel de Carminha, uma das mai­ores malvadas de novela de todos os tempos. Cruel, perversa, mau-cará­ter e sem escrúpulos, Carminha, in­felizmente, também tinha alguns de­feitos. Suas maldades não serão es­quecidas jamais. O próprio STF agendou o julgamento da vilã do Di­vino assim que acabar o processo do mensalão.
  Mas quem não sai da minha mente e dos meus pensamentos mais incon­fessáveis é a estonteante periguete Su­ellen, a Maria Chuteira que conquis­tou o Brasil e todo o elenco masculino da novela. Até o técnico Mano Mene­zes está pensando em convocar a gos­tosérrima alpinista sexual pra dar um gás na seleção brasileira, que está mais por baixo do que o Nilo e o Max juntos, quer dizer, de pés juntos.
  “Avenida Brasil” vai deixar sauda­des. Todo mundo viu, até o Stevie Wonder. Só quem não viu foi o Lula, que não viu nada, não sabia de nada e acha que as maldades da Carminha são uma invenção da imprensa golpista, que não aceita o fato de uma ex-moradora do lixão ser protagonista de uma novela da Globo. Para consolo da Isaura, a minha patroa, vai começar amanhã a novela “Bota Jorge” da geni­al e delirante Glória Perez, uma nove­la que vai ser toda passada num bairro C e D da periferia de Istambul.

Agamenon Mendes Pedreira é dramaturco da novela “Salve Jorge”
 
Agamenon Mendes Pedreira
Enviado por Germino da Terra em 23/10/2012
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