retalhos cerzidos

"eles passarão... eu passarinho"

Textos


Paiol Velho, domingo, 19 de agosto de 2012.

Semelhando você, Harimittar, por outro motivo eu tinha resolvido de que não mais te escreveria, por que, ou eu desaprendi de vez a escrever ou de sua parte há tamanha má vontade em me entender... Mas não, acho que ainda temos chance, e vou tentando.
  Não, nem de longe penso que por eu pensar coisas pra lá de prazerosas — deliciosas mesmo — entre mim e você, q’eu com isso teria a propriedade de esculhambar. Muito pelo contrário, se eu variasse...
  Como quer q’eu seja, na intenção de me pôr pra cima, tem vez que é belicosa e pega bem pesado. Nessas horas, tem vez eu percebo a sua boa vontade encoberta pela falta de tato, e relevo; tem vez, não, todo atrapalhado desentendo, me escudo e verbalmente rinhamos. Então, com atitudes irrefletidas, eu sei, meio feito raio trovoo arrepios. Só aparência.
  Mas nem, nem por brincadeira eu disputo superioridade com você, e nunca fiz desse modo com qualquer outra q’eu vivesse. Se assim o fez com os seus demais, ou fizeram contigo, lamento — acho isso bem tacanho, tosco.
  Ambos estávamos fracos — imaginei q’eu apenas estivesse. Faltou-nos, Harimittar, entre outras coisas, na dificuldade falhamos em não nos dar as mãos, com carinho. Nessas horas deixamos de nos abraçar brandamente, e num sussurro dizer Olha, vê, vem cá, tranquilize-se, eu tô com você, o que vier que venha — vamos compartilhar...
  Os nós incomodam, sei, e num é apenas com reza que os afrouxamos, mas com a consciência de quê existem e onde nos apertam, e os desfazemos.
  Sempre estive ao seu lado, pronto, disponível.
  Não te fiz de pessoa forte, resolvida e bababá..., não. Você me passou essa imagem, passou prum eu pra lá de sorumbático em relação às pessoas. Quando arribei e pus-me a caminhar — inda que coxo —, coincidiu de o istmo donde você ia, de ele bambear e desequilibrá-la...
  Desde que nos conhecemos que gosta de mim? Suponho que sim, né não?! Se não, senão seria carimbar a imagem de completa despirocada. Agora, nem de longe você imaginava que teria de lidar com seus preconceitos arraigados escapulindo feitos princípios... Seria, devaneava, apenas gozar a vida comigo... Saber sabia, mas na hora do vamos ver, do pega pra capar, ah, aí é que foram elas, danô... Agora, lembra quantas vezes me disse, com todas as letras, ou mesmo subliminarmente, quantas você disse Eu te amo, Germino?... Não ouvir de você não me inibiu de assim eu te dizer.
  Imagina de q’eu ficaria invejoso por minha namorada, você, viajar, fazer isso e aquilo sem mim, d’eu desprovido de bufunfa não poder te acompanhar!... Ora, engano seu. Se pode, se quer, que vá. Confio plenamente.
  Com propriedade, Sartre dizia que o homem tá condenado à liberdade... Ele referia o pavor que temos dela, a liberdade, quando pousada em nosso colo. Nem sabemos o que fazer com tanto. Aí, com essa possibilidade de independência legítima ali esparramada, em nossos sentidos dana de provocar tremenda barafunda, dá arrego, borra-se...
  Repara que na maioria de seus e-mails quase nem diz o nome Ger-mi-no. Tem vez, nenhuma uma vez — nem na saudação nem na despedida. Quando se fala com outro — ao vivo, por telefone, por escrito... —, é natural que naturalmente de quando em quando se pronuncie o nome do interlocutor, Harimittar. É bobo mas é verdade: através do outro, ouvir ou ler o próprio nome, inda mais se se admira tanto esse outro, ah, é muito bom...
  Contando a você que me elogiaram, d’eu estar aprumado e demais frescuras fashion valoradas pelos meios sociais, com isso eu não contava vantagem, não. Nunca me vangloriei nem jamais me vangloriarei de coisas que não dou à mínima — apenas contava um causo e com ele quis dizer que, apesar de tudo, de como a coisa vem se enredando e nos engalfinha, embora desse jeito, eu afirmava que inda assim tô firme, me mantenho empenhado, com vontade, disposto — sem beber, sem fumar, alimentado, me exercitando física e mentalmente... No mais, além, se eu viesse a me exibir pra alguém, Harimittar, ora, seria pra você. É como a graça que fiz no sábado pelo skype ou no próprio causo que por escrito contei, pensando que agradaria, te agradaria — tão ligada que é à estética, e eu à ética. Pensei que perceberia que, embora troncho, q’eu ainda sou possível de do movediço me desatolar. Imaginei que daí viria um seu retorno de admiro. Mas, nem... Fui completamente...
  Embora eu sinta tanto de você nem me sentir, que me sinta bem longe de seu universo, Harimittar, inda assim celebro o seu aniversário; te querendo tão bem, com acarinho em meu imaginário, a beijo abraçado.
  Germino

 
Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 19/08/2012
Alterado em 22/08/2012
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