retalhos cerzidos

"eles passarão... eu passarinho"

Textos


desenlace
         

— Por meses chacoalhei a minha galhada; agora, te dou qualquer satisfação do “desenlace”.
  Finalmente estive com a..., estive fuça a fuça. Eu havia proposto um lugar público, que nos inibisse de quaisquer altercações, mas tranquilo. Sugeri sábado, no sítio dum conhecido onde tem um bar. Mas não, ela fez valer o dia e o lugar: sexta-feira no Chico Rei, Centro de Miguel Pereira, onde conluiada a seus pares vara as noites de terça-sem-lei entornando todas. Topei. Por mim...
  Aconteceu no meio do dia, ao meio-dia e caqueirada.
  A pauta — ó só o formalismo: “roteiro”! — restringia-se à Receita Federal e ao o que se passou em sua cabeça entre julho/novembro, quando em outubro me cerca e diz que deseja voltar a viver comigo, já que, com os tropeços de dezesseis anos, teríamos aprendido e então caminharíamos bem. Foi quando meio com um pé atrás eu fui. O que o panaca aqui desconhecia é que a dissimulada acenara ao amante — acautelou-o de que voltaria pra mim mas seria eterna dele, ativa e cativa... Continuariam bem juntinhos lendo Carpenejar, Bravo!..., devorando sinopses “culturais” a no social fazerem bacana... E eu, hein, eu aqui no Paiol Velho ornando os meus cornos!
  Nos restringimos aos dois itens, sem mais algum mas mas mas hipócrita.
  Bem, sentamo-nos à mesa. Ela pediu chope; eu, caipirosca. Perguntei por onde desejaria começar. Blasé, dá de ombros. Então, sem preâmbulo algum iniciei por onde me interessava: a safadagem. Peremptoriamente, é claro que a negou, tintim por tintim. Trelemos sobre o assunto até cansar. Teve vez, simulando indignação, empertigada diz q’eu fazia pegadinha pra ver se se contradizia... De fato, maiêutico multipliquei perguntas e a embaraço, quando na conceituação de suas verdades se contradiz.
  Sabe, eu acho que a loucura é tamanha q’ela própria credita verdade às suas mentiras. Hoje eu penso que poderia ter dito mais, de ter-lhe tirado mais, mas logo percebi que daria em nada.
  Aí, fomos ao outro assunto da pauta, o que a rendeu, por fim, de nos encontrarmos. Me disse que se eu autorizasse aos tributaristas ela estaria bem encrencada, poderia até entrar em cana pelo tanto que burlou da Receita. “Sou médica, nesta região eu tenho um nome a zelar — Dr. M.!” Eu disse “Ó, vê, a devassa tá concluída. Mando, sim, mando pro pau se no imposto de renda você insistir em manter o meu nome como seu dependente. O mais, o que fez aos Cofres, tô nem aí!”. E ela: “Logo que soube de vasculharem a minha declaração — de maneira ilegal, afirmo! —, de pronto eu pedi ao meu guarda-livros que te excluísse. Mas, Germino, pra mim isso nem é o mais grave...”. “Pra mim, é, porra! Por dezesseis anos me chifra e com o meu nome ainda tira proveito financeiro”...
  Pouco mais de hora e meia, canso do lero-lero. Depois de meus quatro destilados e dos tantos fermentados por ela sorvidos, peço a conta. Cada um paga seus goles, e quando tô saindo a... a S. pergunta se meu celular tá com problema, “Por que não retorna às minhas mensagens?” Aí, ali testa, me envia “Paz”. Eu olho aquilo na tela e, silente, a mando tomar na peida. Ora! De alma à pelo, monto na Uno 93 e capino fora.
  Em minha cabeça ainda burilo aqueles instantes a escrever sobre a azedada troca de palavras. Sei, q’ela armou, armou. Atriz, até simulou um chororô — seus olhos marejaram mas não me engambelaram. Tô pra lá de aliviado só de ver a persona cara a cara. Que merda — tanto tempo não poderia esgotar-se assim, interativamente!
  Mais, eu queria lhe falar mais, mas...
  Depois, aqui no Paiol Velho, sentado ao alpendre, relembrando coisas me lembrei dum texto, de julho, um que escrevi e lhe dei. Ela o leu como peça, não dando importância alguma ao conteúdo, assim como canastra de telenovela — decora falas desconhecendo o enredo. Catei o tal e outra vez com ele lidei. O reescrevi sem borda, mas sem abordar nada recente, visto que o concebi há tempos e à época eu despercebia que era chifrudo, ainda sugeria ser, como se diz, um corno manso. É o os vidros e as portas enfim se partiram; eu, com os retalhos cerzidos, caminho... (reescrito).
  De verdade, sobre este texto eu me sinto um tremendo babaquara! Mas, rindo de mim, o edito. Íntegro, ao menos nele me pus.
  Desculpe-me por novamente te buzinar este assunto.

...

  Hein? Eu tenho o tal do Facebook; sim, apenas não o uso e não sei como sair dele. Convidado por uma prima, a Ana — isso tem ano —, nele me cadastro. Cadastrei mas não criei perfil nem nada. No dia seguinte, n’O Globo leio a crônica Quem é quem no livro das faces, do Arnaldo Bloch; assisti ao filme A rede social, onde mostra o calhorda Mark Zuckerberg conluiado a um brasileiro, ambos com 19 anos, maquinando a coisa. Aí mesmo que o larguei de mão. Como eu havia me cadastrado, até hoje pessoas me enviam e-mail pedindo pra serem minhas amigas. No começo, a elas enviei a crônica com o adendo de que acho o bordão “Fulano quer ser seu amigo” boboca pra daná. Ora, ninguém pede a alguém pra ser amigo; amigo cativa-se. Com isso eu despertei um monte de desamigos. Aliás, 2011 foi lotado de desamizades, e de desirmão!
  Mais atrás eu entrei noutro site destinado a relacionamentos entre carentes, o Orkut. Neste eu postei coisas, fui indo até perceber que é igualzinho àquele. Agora, sem nem saber como acessá-lo, me chove pedidos de amizade... Mulheres etárias a mim, a maioria bofe. Todas, aposto, carentes.

...

  Vê, inda que o tempo tenha passado — hoje você, Florinda, taí, plena goza a maturidade; eu, em quatro anos adentro o velhamento —, quem diria, tarde assim nos iniciamos, inauguramos a conquista duma amizade verdadeira...
  Eu tento escapulir da banalidade, maisquero o autêntico.

...

  E sabe, cansei! Vem cá, vamos assistir a um filme?
  — Qual?
  — Eu comprei Pat Garrett & Billy the Kid, com James Coburm e Kris Kristofferson. É ótimo! E ó, as músicas são do Bob Dylan, que até atua... e bem — faz o Elias, outro Kid, semelhado ao “garoto” de Meridiano de Sangue, apocalíptico romance de Cormac McCarthy. Há tempos q’eu tento baixá-lo mas só vem em espanhol, mandarim, escambau... Vem até com legenda em português, mas pô, faroeste é falado em inglês americano e, se possível, com o sotaque do Mississipi, se não num dá! Eu desisti, comprei.
  — O diretor é...
  — É, é ele, Sam Pechinpah, o de Meu ódio será sua herança, o poeta da violência...
  — Ah, vamos... No carinho, hein.

 
Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 01/03/2012
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