retalhos cerzidos

"eles passarão... eu passarinho"

Textos


Manhã de segunda-feira, 21 de novembro de 2011.

S.,
mais uma madrugada pensando. Pensei e resolvi não enviar ao L. e à E. o que escrevi revelando mais uma das facetas da mãe deles. É pesado demais! Não a narrativa, mas os fatos. Coitados, ninguém merece saber essas coisas sobre a própria mãe. Deixo-os viverem a ilusão de que têm uma genitora de moral ilibada.
  Pensando bem, pros seus filhos é pesado, sim, mas pra M., não. Se é q’ela já não sabe, atenta a tudo... Na lan house eu decido.
  Mais à frente, em minha página na rede, isso será publicado. Provavelmente com o título a S., o seu Queridíssimo e o palhaço.
  Mesmo sabendo que você tripudiará de mim, S., te antecipo a carta. Sei que a levará àquele, é, e sei que entornando um tanto de cevada, gargalhando muito, lhe dirá: “Num disse, aquele tal de Germino é um tremendo dum palerma! Mais uma vez, eu o dobrei — euzinha sou foda! E falando nisso, Queridíssimo, vamos fudemorar, hein, vem...”.
  Germino
  Em tempo: S., você fodeu co’minha alma!

Paiol Velho, manhã de domingo, 20 de novembro de 2011.

L. e E.,
o que contarei é uma maneira — a única que encontro — d’eu ser digno com vocês. Como foram participados q’eu e a S. tínhamos a pré intenção de voltarmos a ficar juntos, devo anunciar que tudo não passou de mera pretensão. Quimera! O que abaixo contarei é uma satisfação a vocês. Sei que ouvirão outra versão, mais amena — eufêmica —, até me acusando, entrementes, aqui lhes dou os fatos.
  O que revelarei é bem pesado, muito. Pensei demais antes de me decidir, mas a minha dignidade embaralhada com tamanha decepção, não me deixa calar: Na quinta-feira agora eu aguardava a S. em sua casa. Procurando música no computador, dei com bilhetes dela a um “Queridíssimo”. Curioso, os li — quem não leria?... Ela se referia ao B., o irmão da C. R. S..
  Se eu vasculhasse mais, acharia coisas que até o Tinhoso coraria.
  Num deles, entre outras coisas o convida pra “juntinhos” lerem um poeta gaúcho, o Carpenejar; no outro (com tinta quente, vermelha, a do tesão) começa dizendo que há muito se conhecem e, sorrindo a ele, no tempo divaga. A seguir graceja de um dia o “Queridíssimo” e o A., o pai de vocês, se desentenderem — atinei por que —, e que em Búzios, em 98, também se desentendeu comigo por eu impedir q’ele, bebido e cheirado, às 23h levasse crianças — vocês dois mais um tanto, de banho tomado e já de pijama, mães exaustas —, que as levassem ao mar. Tomo dores alheias, opus-me e ele resistiu. Não fosse o deixa-pra-lá ali sairia safanão e pernadas. No bilhete, debocha: àquela época, à minha descompensação ela atribuiu ciúmes. É safa, assim é fácil, é primário... Ao ler a burlesca lembrança do episódio e de como se saíram bem, aquele deve ter-se gozado de tanto rir.
  Bem, e aí a S. vai, historiando revela-se: desde quando o “Queridíssimo” estava casado com a L. — isso lá pra trás, hein —, embora “gostasse muito” da mulher do sujeito, os dois se engraçavam; e continuando diz que quando ele, o tal, estava com a M., também, os dois transavam; quando com a F., também. E desfila gracinhas ao “Queridíssimo”, pilhéria das três e de mim, e, por tabela, do A., o pai de vocês. Por fim a cínica diz nunca terem sido flagrados, astuta sugere que nem nunca seriam desmascarados, e que, como se a ele se justificasse ou lhe pedisse autorização, ela estaria voltando pra mim..., eu, o panaca cornudo.
  Nesses dois períodos em que o sujeito estivera com aquelas duas, a M. e a F., a S. “oficialmente” estava comigo; quando com a primeira mulher, a S. estava com o A., pai de vocês. Trai quem estivera com ela e se reveza com as do “Queridíssimo”. Atriz atroz dá de ombros que atrás há três
  Tem prática: com uma dileta amiga, a H. — à época casada e com uma bebê — mais o radiologista E. no meio, com ele na cama as duas se alternavam. Quer dizer, trai lá e cá, quem sabe também acolá, como homo, já que seu primeiro marido a traiu com outro...
  O arquivo que li é de inda outro dia (se te derem na veneta de o lerem, atentem a sua data, é importante, visto que, pela máxima conveniência, por ela ele pode ser editado — é, mas eu tenho cópia do original e lhes disponho). O arquivo é de inda outro dia, dia após o aniversário do sujeito, quando seus corpos com copos brincaram de barquinho na piscina da C. R. S. lembrando suas velhacarias. Quiçá, depois zuniram à Aninhamoura, ao ninho dele, e ela, embrulhada em papel de presente, vermelho, a ele ela se deu.
  Isso depois de dias antes insistir comigo pra que voltássemos, depois de me azucrinar pra voltarmos — eu já aquietado com a separação, com amizade nova... novos planos, e qual um animado babaca, cedi, voltei. Por que a S. não me deixou aonde eu ia indo, caralho?!...
  Ao ler aquilo, levei um trambolhão, uma tremenda porrada. Fui à varanda e vomitei.
  Desfocando-se do fato, a S. me acusa de, ao bisbilhotar seus arquivos, de ter invadido a sua privacidade. Como anjo, posuda inverte, tu quoque faz-se de vítima. Mas, se não calha d’eu os ler, nós voltaríamos e ela continuaria me traindo com o “Queridíssimo”, vez e outra iriam lá, os dois escapulidos à Aninhamoura se amoitarem (onde não tem N., testemunha), iriam se esbaldar e gargalharem do panaca aqui. Isso, esse escrito caindo em suas mãos, as dos dois calhordas, ah, dará motivos de soltarem umas boas e estridentes risadas, de dar com pau, antes de irem pra cama. Isso a excita.
  Se há tanto ficam juntos trapaceando os demais, me pergunto por que ela não o assume e com ele fica de vez? Talvez... Ah, sim, certamente por saber que o sujeito é viciado em trair — seria o tal toque? —, o tremendo galinha a trairia. Ela trair, pode; ser traída, jamais! Dúbia, a S. quer um homem bem aninhado em seu catre e um outro vagabundeando no dele, onde ali se ajuntam pra safadezas. É isso, isso a assanha, inda mais agora, na menopausa e pança volumosa, pescoço desenhando queixo triplo, avermelhando unhas pra desanuviar todo o entorno, barangada, ridiculamente se ajeitando qual juvenil.... Nossa!!!
  Agora, um sujeito pançudo, sem bunda, de dentes cavalares, perdigoteiro... Enquanto casado com a L., na cama deitava-se com a S., que estava com o pai de vocês; deitava com a A. B. — é, não sabiam?!, mãe dum amigo de vocês, enquanto casada com o P.; depois veio a M., a F., e a S. lá, oblíqua, entremeada... Isso, q’eu saiba. Num sei, além de ter uma lábia do cacete, o sujeito deve ter pica com gosto de favo de mel.
  Pra vocês filhos, tudo isso certamente é um puta choque. Me desculpem, mas sabendo que ouvirão uma versão fajuta, sem maquilar eu tive de lhes falar de minha tamanha decepção com a mãe de vocês.
Há tempos, por outros motivos me pus de sobreaviso, mas, pelo tanto de amor q’eu tinha por ela, relevei... Sobre o desvelado agora, não, essa coisa tão nojenta, arg, isso eu nem poderia imaginar!
  Germino
  Em tempo: agora são 14h35m. Liguei à S. e disse que lhes escrevi contando o descoberto, que num é nada ficcional, mas um relato, e, pela nesga de consideração que ainda me resta a ela, eu queria que lesse antes de enviar a vocês. Ela regateia, diz que é vingança minha, que não quer ler, que, do jeito que escrevi, q’eu envie... “Vingança” contra o quê, cara pálida, se jura de pés juntos que nada fez?! Ponderei, eu disse que é coisa pesada, mas, confiante em si, certa que engambelará vocês, lhes dará uma volta como sempre fez com todos, se achando acima do bem e do mal, lava as mãos...
  Bem, mais uma vez, L. e E., me desculpem, mas num dá, taí.

 
Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 22/11/2011
Alterado em 09/03/2013
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