retalhos cerzidos

"eles passarão... eu passarinho"

Textos


orneio muares

... ora, veja, naquele dia, somente nesse dia q’eu me dei conta do que fizeram — caparam o jamelão que se enraizara em meu quintal e pendia à servidão, esta que não é apenas dum, deles, e ele, a árvore já adultinha, duns quinze metros, nem ameaçava coisa alguma, apenas na época dela “sujaria” de pequenos frutos roxos a passarela da zinha. Chego do Rio e da janela olho, custo a acreditar — fui lá e me certifiquei. Num é que caparam mesmo! —, custei a acreditar que aguardaram a minha ausência de dois dias pra cometerem o crime de cortarem a minha árvore. Crime! É, eu poderia ir à polícia, ao IBAMA, eu poderia ir ao cu do Judas, que fosse, iria azucrinar aquelas duas vidinhas tacanhas.
  Me aperreei e refuguei, é verdade, mas ainda não descarto a possibilidade, não, ainda penso em tomar atitude; só que hoje como é hoje, pela descoberta eu tô tão furibundo e deixo por menos, ao menos hoje passar. Fico dedilhando a indignação neste teclado — à época assim entabulei cá comigo.
  Ah, eu teria ido, denunciado. Cê sabe, como advogada... 
  Florinda, nem imaginei o que poderiam fazer nas minhas futuras e frequentes ausências. Fiquei até com medo de maltratarem a Alfa.
  Estes que se hospedam rumo a mim creem que são os proprietários — dueños — do Paiol Velho inteiro, mas não são não; a propiedad, o quinhão que lhes cabe, e que era de meus pais, é de alqueire mineiro, 48 mil e 400 metros quadrados, isso não inclui a servidão, servidão é passagem, acesso! Eles são crédulos de que suas presenças gabarita, magnífica a região; mas não, elas, as suas presenças, indigna a todos que aqui vivem. Vê, uso a 1ª pessoa do plural, não falo apenas por mim — se fizerem um boca a boca, à boca miúda todos, sem exceção, os acham demais daninhos, praga! Convivíamos com problemas — as trapalhanças de cada um — como se vive alhures, mas nem de longe com pessoas tão manhosas, agora aqui a nós impostas, nos aporrinhando.
  É por isso, mas mais por outras tantas razões, q’eu penso em guinar pra Mar de Espanha, eu e a Alfa.
  Puxa, Mino, tu mora aqui há tanto tempo! Como é que toda semana eu vou pra lá, é longe?! Outro dia você nem quis me levar, hein! Tem alguém lá?...
  Peraí. Não detalharei, vê, Florinda, como vim vindo a acumular a ojeriza às suas desqualidades, as deles, se é que têm qualidades. No começo foi ele, apenas; aquela, eu apenas a achava uma tremenda duma insuportável — hoje a acho pior que o outro, o pau-mandado. Sobre ela, por ele mesmo isso era explícito de variadas maneiras. Ainda capinando do quimérico eu percebi as suas desqualidades, fui percebendo o quão perniciosos são. Quais? Não, não as detalharei, não. É feio!
  Não falarei sobre as sandices quando eu e aquele saíamos poraí, e eu o apresentava a todos da região; da sua beberagem no Bar do Roberto e no do Zé Pretinho, nas Três Porteiras, ele se insinuando às pretinhas; às filhas do vendeiro... Tá, um dia te levo lá. Ou mesmo aqui ao alpendre, quando enchia seus galhados cornos de cerveja que na minha geladeira escondia daquelazinha e depois ia pra lá, a aquelazinha, e lá se orneavam ecoando ao entorno paiolvelhense desafinavam os cantos alegres dos passarinhos. Sobre elas, as sandices, calo. Tanta coisa! A minha ex que vinha a mim vez e outra, como maquiavélico rapidamente a fez de sua médica; e como se esbaldava tentando seduzi-la, ainda que brocha confesso.
  Isso você já contou, Mino...
  E conto outra vez — você que puxou o assunto. Nem sei se como paciente ele conseguiu o intento, visto q’ela achava “um charme” aquele zurro com sotaque portenho... As meninas pela cidade de uniforme colegial, ah!, ao vê-las confessava saudade da ereção de seu falo falido, pra, na calada da noite, como o diabo gosta, debaixo de mantas babando as fantasiaria se punhetando.
  Isso você também já contou... Quê nojo de sujeito, hein, Amor!
  “Amor”!, não, já te pedi... É, e se eu fosse detalhar o episódio da minha labrador, a Alfa, essa meiguice aí esparramada no alpendre, ela apanhando duma feroz pit bull do outro vizinho, como ficamos, eu e ela todos ensanguentados, nossa — a representação daquele, que representação!
  Nossa, que sujeitinho, Mino!...
  Se eu fosse contar a outras pessoas, elas ficariam boquiabertas.
  Eu tô... Nojento! Quer q’eu dê entrada num processo? Perdas e danos!...
  É verdade, várias e variadas têm conhecimento detalhado desse asqueroso fato. Mas sabe, Florinda, num é que com esses ocontecidos, quando os narrei a outrem, sabe que com isso descriei amizades. Me largaram de mão, é, muitos zuniram de mim, zuiiim..., é, até aquela.
  Eu quero q’ela se foda, A... Mino!
  Por outro lado, Florinda, foi bom, assim de longe eu pude olhá-las bem, essas pessoinhas, e as enxerguei melhor, é, que remédio! Bati de frente com o que apenas entrevia: suas amizades eu nunca as tive. No começo, sofri um tanto — nunca imaginei q’eu vivia relações tão engodadas; depois, foi indo, tá indo...
  Aquele ocorrido e outros mais foram registrados por mim, na hora quente e na resfriada, tá tudo aqui, arquivado. Suas versões, desses dois aí, orneios de muares, prestam aos seus pares; a mim, não!
  Hein, quanto aos demais, aquelas “amizades”? Me livrei de tanta logração. Hoje vejo: que puta alívio!
  É, que cada um pense e fale o que quiser, Mino. Vem, vamos entrar?...

 
Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 20/10/2011
Alterado em 05/11/2011
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