retalhos cerzidos

"eles passarão... eu passarinho"

Textos


 Enquanto ignorares
o que deve ser evitado e o que deve ser procurado,
o que é necessário e o que é supérfluo,
o que é justo e o que é injusto,
tu não viajarás, não passarás de um errante.
Sêneca


 
alforria
 
— autocrítica sobre a escritura

Alguns textos os penso escrevendo e descarto por que num guento, são insuportáveis; outros, penso e escrevo prum bate papo qualquer, um blablablá descompromissado; outros ainda, ideio... rascunho na cachimônia... teclo... e os descortino num lugar ameno. Sentado à sombra do jamelão os releios e remendando ausculto passarinhos, vez e outra olho a Alfa e o Dudu se esponjando na grama, e no istmo Paiol Velho—África percebo o cintilo além-mar — encantado e admirável se me aconchega. Mas outros textos mais os escrevi com pena, que jeito!
  Estes, embora com algum carinho que perpassa a lembrança duns dias remotos — anos ao alpendre quando dois personagens em conversação & tesão —, estes os vivi. Falam também de momen­tos de amor dissimulado, a sua ambiência impondo d’eu desmilinguir-me pra nela ser tolerado mimetizando os três macaquinhos de almas lavadas — o cego, o mudo, o surdo —, a nata da Serra Azul, com certeza agregando valores não ao micro mas ao macro (nem se sabe bem a quê), o menos transposto a mais... Fala dúbia decorada em resenhas auto-ajuda.
  Se sabe assim, mas nem há acanho algum, é fashion, e inda se falada entre baforadas de Marlboro, com o indicador em riste e o vizinho ostentando um tremendo aro dourado combinandinho com os penduricalhos dos pavilhões auriculares (tem gosto pra tudo), na roda de perdigoteiros a um happy hour regado à devassada cevada, assim, lotado de devaneios estilosos proporcionando a inclusão no além, hein.
  Aí nesse Pseudo Café pareado a Erudito & Feito — night club, onde quem entra paga dois ingressos, pra si e pro ego, estabelecimentos de propriedade de Bruno http://dinamicadebruto.wordpress.com/ Maron (perdão), lá um diz pro outro que “Sócrates foi condenado a beber sukita, noutra mesa outro diz pra um que “Do Shakespeare gosto de Macbeth, Rei Leão... ”. E noutra mais ao lado é-se categórico: Machado de Assis era com-ple-ta-men-te irmão gêmeo do marechal Deodoro da Fonseca, seu primogênito em primeiro grau... Num vê, um é o focinho do outro, cuspido e escarrado!
  Ah, aí então valeeeuuu!!!, com essa overdose de erudição, ela, a fala é aplaudida, tal imbróglio pegado a recheada verbosidade carismática é ovacionado pelo daltonismo dos subservientes basbaques ali presentes...
  Por esse viés, com tecladas assim eu cirzo retalhos que me acercavam.
  Por essas e outras me ensimesmo. Até um cara que nem é amigo, mas que poderíamos vir a ser — sabemos de cada um, moramos na mesma região e não nos conhecemos, apenas trocamos alguns e-mails (há uma pedra em meu caminho) —, até ele meio que corrobora com minha visão sobre a ambiência e um dia me convidou: “apareça na civilização de quando em quando. Ao menos pra observar a mediocridade”.

Sei que pela patotada encoberta nem não sou ouvido, quiçá escutado, então aos ventos que ventilaram instilo uivos de expressão infinda, instintos de minha individualidade exprobrada, direito elementar de aninhar soberania às palavras na forma q’eu queira, como sei; ululo alforriado de mim próprio, rebento o grilhão por tempos ornando meu pescoço, me dou alta desse manicômio imaginante dispensário de âmagos — de ti tô liberto —, eu e meus variados eus!

Agora sou iiiz, filiz até demais...

 
Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 09/09/2011
Alterado em 13/10/2011
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