retalhos cerzidos

"eles passarão... eu passarinho"

Textos


Paiol Velho, segunda-feira, 5 de setembro de 2011.

Parabéns pra você, Açucena, muita felicidade nesta data, muitos anos à frente. É o meu desejo sincero.
  Nós nos conhecemos há dezesseis anos, fez agora em agosto — estradamos um punhado de harmonia e de desinteligência, hein, tal como qualquer par. Apesar desse último e determinante desacordo, à minha maneira eu sempre te quis bem, Açucena, e mesmo com o fim do longo período, da lonjura sempre continuarei assim malungo te querendo, seja lá em qual ninho se aninhe sob a crescente alvejando a noite.
  Em seu consultório, doutora, eu deixo um CD com músicas variadas, DVDs com Estamos todos bem de Giuseppe Tornatore, Inverno na alma de Debra Granik e O princípio da incerteza de Manoel de Oliveira, canções e filmes baixados e gravados por mim; à parte vai um molho vermelho apontado com salientes espolins amarelos entretecidos — são gemas partindo de bulbos catados aqui mesmo, no quintal do Paiol Velho. O nome é Vallota speciosa. Nem é nada de especial não, mas bem me agrado só de olhá-la. Talvez você também... Águe-a parcimoniosamente, viu, cultivando entre luz, não ao sol pleno.
  Ideei em rodeá-las de patchuli, donde se extrai um óleo volátil, bastante aromático. Mas num sei... num sei se se harmonizariam. Acho que não.
  Não torça o nariz a tudo como se tudo fosse tosco; é rústico, sim, artesanal. Nada comprado — a bufunfa é curta. Além do quê, te tomar como ponto de mira com algo carinhoso produzido por mim, cabeça e mãos escapulindo da produção em série, é tamanha pessoalidade. Nada de cheque ao portador (nunca descontado), ou de meias, cuecas, camisetas... (que bem as uso) apressadamente arranjadas numa loja da esquina. Até por que, Açucena, entre nós, cá nem mais há intimidade a comezinhos, coisas de na espontânea alegria serem generosa surpreendências sem data.
  Também pensei em a aqui anexar um texto meu, mas sei que nem gosta mais de ouvir a minha gagueira lexical. Portanto, não me alongo — já que semelhada a tacanhos com déficit de tempo, certeira me tacharia de prolixo.
  ...
  Peraí, cabeçudo insisto com lá fora, o vento, apenas o vento — tudo a ver.
  Bons dias e boas sortes. Agora e sempre, seja feliz, feliz até demais.
  Bye-bye, Açucena.
  Germino
  Em tempo: como não poderia deixar de ser, ponho este cabal ET pra te dizer que teimoso teimo e ao tudo acompanha um tanto de folhas com os textos que em julho e agosto postei na internet — variados deles de maneira variada têm a ver com esses dezesseis anos, quase um milênio. Como sei que lá você não me lê, pro seu conforto ajuntados os imprimo ligando-os com um espiral.
  Cabal II: agora, manhãzinha de segunda-feira, 5 de setembro, banhado aguardo a hora de ir à sua clínica e te ofertar o que fiz. Entrementes, no instante rumino...
  ... 
 Sei que hoje por ser hoje, na dependência e merecimento você gozará em gazetear trabalho, sei, e assim com a atendente eu deixaria o meu agrado a você. Embora a data seja a mesma, o que acima escrevi fora escrito ontem. Não desdigo o sentimento que me estumou ao te escrever nem quando no transcorrer da feitura dos feitos, mesmo que, é isso mesmo — neste dia a você eu louvo emboras, felicitações aos seus cinquenta e quatro anos, e aos vindouros. Mas, pensando bem, aconteceu de nesta noite, de ontem pra agora, d’eu matutar se teria valido tal esforço prazeroso de gravar músicas, filmes, colher flores, ajuntar tantos textos num só volume, pra... pra tudo parar no seu descaso, na lixeira do desleixo?! Aí — meio tedioso meio embevecido —, em frangalho percebi, atinei-me a mim mesmo e me disse comigo, não, com tudo fico eu; você, Açucena, com você fique bem.
 
Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 05/09/2011
Alterado em 12/10/2011
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