retalhos cerzidos

"eles passarão... eu passarinho"

Textos


 silêncio
Eu me especializei em silêncios de retalhos cerzidos toscamente — ensolarados e chuvosos —, delicados pingentes suspensos no fio do sentir emaranhado. Colecionei silêncios em balaios de nuvens e brisas... também vendavais.
  Têm dias o silêncio me visita de manhãzinha, ainda sonado... sonhando. É silêncio de aromas florais despertos, silêncio que espreita através da cortina e enfeitiça o dia.
  Há silêncios trancados, truculentos; há silêncios cinza de solidão infinda; há arremedos de silêncios vazados por mínimos raios de luz; há silêncios uivantes, ao vento; e há silêncios de ventanias, cortantes, que ressoam no Paiol Velho existência de signo dominical, que guiam meus andares trôpegos. Há, sim.
  O silêncio se me introjetou com vagar e foi à minh’alma agonizante. De tanto insistir, calejou, e eu comigo senti-me leve como passarinho a reencontrar seu cantar. O silêncio — estranho — entrando caminhou pelas entranhas que se abrem à felicidade. Tessitura silenciosa, leve, pungente ecoa.
  Rio Quietude onde lágrimas de silêncio sonoro caem n’água transparente, e dela emergem como brisa, sopram a flor... e pétalas perfumadas se desprendem d’alma.
  Cores da manhã surgem vagarosas, vão indo ao vespertino como se a noite fosse um conviva aguardado, e após as últimas pinceladas de azul-rosáceo, o céu se abate das cores, inventa pingos estelares, quando baixa o crepúsculo e silhuetas imprecisas mostram devaneio. Então espio.
  Dos espasmos inconscientes respingam sentidos que se esvaem na serenidade da noite.
  É hora de adormecer...
... silêncio.
 
Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 02/09/2011
Alterado em 09/10/2011
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