retalhos cerzidos

"eles passarão... eu passarinho"

Textos


árias sertânicas
2- agora sou feliz
de Elomar

Breve sinopse: Ária da última cena da Ópera “Casa das bonecas”.
Para ser breve, trata de um peão vaqueiro que pressionado pela noiva e nas mesmas circunstâncias de pobreza dos personagens de A Carta, vai a São Paulo onde passa um tempo trabalhando naqueles gaiolões de pintar paredes dos altos dos edifícios daquela Mega. Após ter passado o tempo necessário para ganhar dinheiro, pega o ônibus, malandros envolvem-no com muita conversa e uma baforada de droga. (Quando se desperta do fumaceiro) ao perceber que levaram-lhe a bolsa com o dinheiro todo que havia ganho em São Paulo, um curto circuito fechado deixa-lhe vagando de mala na mão pelas ruas da cidade e o pior de tudo: apagou-se-lhe para sempre este maior tesouro que Deus deu ao homem (pelo qual este lhe é imagem e semelhança) a lâmpada que alumia a razão.
  Dias após, funcionários da Companhia de Ônibus, encontraram-no sujo e maltrapilho com a mala na mão in perambulans pelas ruas da cidade, silencioso, mudo e com o consciente totalmente zerado. Em tratos especiais transportaram-no até seu lugar no sertão.
  Ao chegar em casa, não mais reconhece pai, mãe, irmãos. Abre a mala distribui os presentes: um facão entrega nas mãos da irmã; põe um brinco na orelha do pai; um rosário no pescoço do cachorro... Após vai à casa da noiva que o aguarda na porta de braços abertos. Passa de largo e direto para a camarinha. Já é noite e imensa a lua ascende como uma rainha aos céus, e lá na camarinha começa a briga com uma terceira e misteriosa personagem. Ouve-se um terrível e longo diálogo. Por fim, deixando a camarinha entra em cena trazendo nos braços uma boneca de pano vestida de noiva e na escala humana, cantando esta dolorosa ária, Agora sou feliz.
  A noiva vivia de fazer bonecas e vendê-las nas feiras. Quando o noivo partiu para São Paulo, ela começou a fazer uma à sua escala e semelhança prometendo-lhe concluí-la na quadra do regresso dele.

Agora sou feliz
Noivo
Agora sou iliz/ filiz até demais/ bem sei que não mereço/ o que a sorte me traz/ a vida começou/ de novo e a toda prova/ é demais/ o que a sorte me traz/ amada a lua nova/ vêi alumiar/ com branca renda/ a nossa alcova/ ó noiva filha do luar.
Boneca
(Saltando dos braços do noivo)
A desventura já se foi/ no peito a saudade/ em mim não mais me dói/ e para o bem da verdade/ também já sou filiz/ filiz até demais
Noivo
Jubilosas estrelas/ cantam de alegria.
Boneca
Dança o meu coração/ nesta grande festa/ oh glorioso dia/ dança por que/ não mais vou ficar só/ e por que/ não mais vou ficar só/ e por que/ minha maior ventura/ é de estar pra sempre/ com meu amor/ e não mais ficar só
Noivo
Oh vem/ mia amada/ já morre a tarde/ vamos na noite/ enluarada/ vem para meus braços/ bem junto do meu coração/ vamos fazer/ o nosso ninho/ lá longe nos céus/ junto dos passarinhos.
P. Auditórios
Entrega todos os bens ao requerente pelo advogado do exequente.
Vaqueiro Estudante
Sentenciado que o antigo dono de agora por diante e eternamente passa a ser por lei um retirante...
Joana Senhora
Que só pissui um bem: necessidade nos peito a faca fria da saudade qui vai nos prissiguí pur todo tempo pois ela é feita a morte qui num infara.
P. Auditórios
É como nela se contém e declara dada e passada nesta cidade nesta data mais preclara, Aos tantos dos tantos tempos do ANO DOMINE pelas colendas dos mil novecentos e tantos pelas colendas dos mil novecentos e tantos pelas colendas dos mil novecentos e tantos pelas colendas dos mil novecentos e tantos.


 
elomar
Enviado por Germino da Terra em 24/08/2011
Alterado em 09/09/2011
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras