retalhos cerzidos

"eles passarão... eu passarinho"

Textos


paradoxo
Têm dias e nem não vejo vivalma, então me sinto uma penada. À tardinha de um domingo de 2003, remôo...
Enquanto ignorares o que deve ser evitado e o que deve ser procurado, o que é necessário e o que é supérfluo, o que é justo e o que é injusto, tu não viajarás jamais, não passarás de um errante.
... nem sei mais quem que disse isso, mas remôo em meus sonhos e ideais.
  Valores, princípios, preconceitos. Às voltas com um mistério, ao menos pra mim misterioso, cresço às emoções tem vez amena, tem vez escabrosa. Dou nomes às surpreendências. Coloco em lugares inacessíveis o que desejo ao meu alcance, então procuro.
  Besteiras?, eu faço. Busco longe o que está perto e invadido pelo sentimento de culpa lamento pela procura inútil. Desgosto me causo; causo aos outros. Tudo próximo e não enxergo — afastado, me perco onírico, e agarro pra realidade não escapulir, experimento da ilusão — então dano. Desiludo. Crueza.
  A nostalgia me visita sempre acompanhada da solidão, escrevo às pessoas, então. Através de cartas falo de mim querendo chegar perto de pessoas; quero chegar perto de mim mesmo tentando me aproximar dos outros. Me expondo quero me entender e chegar perto deles — ou eles a mim. Mas ninguém toma providência.
  Agora escreverei invencionices pra mim próprio endereçadas a mim mesmo — eu destinatário de mim remetente. Bobeio imaginando que o que rabisco interessa a alguém, a outros alguéns. Que ingênuo que fui! Que bobão que sou!
  Só, entenderei o meu próprio valor quando perdido me reencontrar. Não adianta querer encurtar o caminho; abreviar o percurso é perder a oportunidade de experimentar, aprofundar. Pedregoso? É, mas traz vivências que as somo à existência. Me diferencia como pessoa, estrutura minha ética, minha maneira de estar... e apazigua a cãibra em minh’alma.
 Ah, sei lá o quê, quem, sabe até que ponto me põe a prova e nunca vai além; e aprendo a dizer que não estou abandonado, banido. Ah, sei lá o quê, quem, jamais faz isto, sou o único que pode me excluir; e, já sim, tentei me abreviar, frustrei, tudo em vão — sou um incompetente! Ah, sei lá o quê, quem, coloca uma grande prova e dá possibilidades pra ultrapassar, e... e demora?
  Demooora.
  Ao mesmo tempo subo e desço os mesmos degraus da escada, na mesma direção.
  Paradoxo.


 
Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 13/08/2011
Alterado em 08/10/2011
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