retalhos cerzidos

"eles passarão... eu passarinho"

Textos


Paiol Velho, quarta-feira, 20 de julho de 2011.

André,
sobre a minha escrita, guardo como grande elogio o que disse: “... Original... não encontro similitude com nada que tenha lido antes”. Envaidecido, eu agradeço.
  Mas nem sei, variadas pessoas a acham “difícil”, “esquisita”, até um simples e-mail, e, tem vez, a truncam. Essas eu as traduzo por ligeirinhas sem tempo, fazem leitura apressada. Aí ficam brabas comigo, me xingam de adjetivos que desconheço — pelo meu desirmão eu já fui taxado de misantropo, vê se pode; depois de recorrer ao dicionário, de bate-pronto lhe trepliquei sem retórica, mas com lógica: por a + b demonstrei de ele não saber ler, embora seja Professor Doutor em Comunicação na UFF. Uf!!! Tem ainda aquele episódio do site dos “Desclassificados” no concurso da revista piauí, lembra? Por não entenderem bulhufas do que escrevi, até entre os desclassificados eu fui desclassificado... Careceu da sua e de outras intermediações — que vergonha! — pra que ali me incluíssem.
  Uso palavras comuns — até por que meu universo lexical é pequeno, mas variado —, emprego palavras, suas acepções, um tanto fora do uso comum; não penso nela, a palavra, mas na frase, e a componho dando a minha dicção... meio gaga. Sem intenção alguma, num faço com propósito algum. Desde pequenininho — no começo, foi o ABC, aí fui indo e ainda tento galgar XYZ —, desde miúdo num sei escrever doutra maneira. Talvez por enxergar meio de lado o que me circunda eu pense desta maneira, e assim, num sei, eu desloque o eixo do sentido comum e ninguém me compreende... É verdade, tem vez faço intuitivamente, sem querer querendo. Isso isso isso.
  Lá pra trás, a um então cunhado gente boa comentei q’eu estava empolgado com um livro, o ABC e XYZ da Apicultura, um calhamaço técnico do Root; aí o cara, do meio da informática, sem se ater ao complemento, pôs a mão em meu ombro e me aconselhou: “Germino, ‘ABC’ é apenas o bê-á-bá de qualquer assunto, pra crescer cê tem que ler coisas mais completas...”. Vê que ligeirinho!
  Num ‘guento e me metido a exemplificar-me com Metáfora, a letra do Gil: “Uma lata existe para conter/ Mas quando o poeta diz: ‘Lata’/ Pode estar querendo dizer o incontível/ Uma meta existe para ser um alvo/ Mas quando o poeta diz: ‘Meta’/ Pode estar querendo dizer o inatingível/Por isso, não se meta a exigir do poeta/Que determine o conteúdo de sua lata/Na lata do poeta tudonada cabe/Pois ao poeta cabe fazer/ Com que na lata venha caber/ O incabível/Deixe a meta do poeta, não discuta/ Deixe a sua meta fora da disputa/Meta dentro e fora, lata absoluta/ Deixe-a simplesmente ‘Metáfora’”.
  Intertextualidade, sim, intertextualizo sim, o tempo todo — como o Houaiss diz, me utilizo “de uma multiplicidade de textos ou de partes de textos preexistentes [principalmente as ideias] de um ou mais autores, que resulta a elaboração de um novo texto” (acepção 3). Até abuso disso, sei, e, pra uns e outros caxias — melhor dizer acadêmicos babaquaras — cometo o crime de plágio, embora, duma maneira ou de outra, sempre nominando-as eu me remeta às tais referências.
  Se você ler, André, o que pus no http://renatoreis.prosaeverso.net, o os vidros e as portas enfim partiram; eu, com os retalhos cerzidos, caminho..., verá como explicitamente imito. Sem omitir a origem, bem entendido.
  Quanto a este site no Recanto das Letras, eu ainda estou aprendendo a mexer, lidar com ele. Eu gosto de brincar com fontes, com elas imagino dar significâncias variadas ao que digo, nem sei, e ali é campo limitado. Eu gostaria, também, a modo dos Campos e do Pignatari, de dar formas ao texto, desenhá-lo, mas aí seria abusar do que desconheço. Até pôr música de fundo eu acho que enriquece o que se diz, acho um ótimo recurso, e aqui ponho a do Gil.
  É, mas pra isso tenho de estar num lugar tranquilo, não é numa lan-house com o burburinho que ronda essa ambiência que dá pra fazer isso. Ontem mesmo fui a uma em Paty, tentei mudar algumas coisas em minha página, mas, vê bem: sento numa cadeira baixa, com o teclado em inglês quase ao meu gogó ouço o Marcelo sei lá das quantas, aquele padreco, catequizando, e, pra finalizar, jovens afoitos, falantes, adentram e pedem à Lilian, a dona, pra pôr música funk. Além do quê, o provedor Yahoo me “atualizou” sem eu nem querer, e nele me perdi. Cacilda, eu hein, acho que tô fazendo merda!, intuí. Com pendravi eu cato o seu e-mail pra aqui no Paiol Velho retorná-lo, à Açucena envio um, e capino fora — zuni à Tia Lêda a comer um salgado e beber um refresco de goiaba, bem bons. No meio do caminho eu quedo e estanco instantes na banca do Toninho, lero-lero com um cara que há muito não via e compro o último número de Língua — donde ora tiro Metáfora —, revista que na segunda-feira esqueci largada na poltrona 25 da Normandy.
  Também ando sem saco algum pra escrever, André; escrevo tão-só o que me estumam. Estou sem saco, inclusive, pra revisar um tanto de textos meus, de ajuntá-los compondo o retalhos cerzidos, e com ele participar do Prêmio SESC de Literatura. As inscrições serão encerradas em final de agosto (anexo a prévia do edital). A premiação é ótima, eu acho: pela Editora Record, publicação e distribuição de duas mil cópias da obra vencedora; e além, grana ao autor: 10% do valor da capa. Publicar e principalmente distribuir é bem mais complicado do que escrever!
  Sobre o meu filho vanzoliniano, o manobrante que sacode a poeira e dá a volta por cima, ele zarpa running e deixa seu câncer lá pra trás. Só de imaginá-lo dá, como você reproduziu eu parafraseio Macunaíma, dá, ai, tamanha canseira!
  No mais, qualquer dia de dia quando me chamar pra magnificar, de pronto comparecerei munido deste goró dos deuses. Quanto à doutora — sem nó nos vimos trocando em miúdos, de bem — quanto a ela “intermediar e participar, é claro”, ah, aí nem sei... aí fica por conta de suas, dela, conveniências. Tá claro?! Em relação a mim, essa dona é lotada de.
  Inté.
 
 Germino

  Em tempo: ó, André, já que você referiu o livro, tenho o filme Macunaíma, herói de nossa gente, de Joaquim Pedro de Andrade, com Grande Otelo mais Paulo José, a então poderosa Dina Sfat e Cia.. Se quiser, eu copio. É bom pra daná! Ainda nos situamos no mesmo imbróglio — oh, ser ou não ser... —, irresolutos quanto à parecença àquele anti-herói. Aliás, assistir a um filme cansa menos que ler quaisquer maçarocas dum Mário qualquer. Ai...
Em tempo II: eu tô pra te perguntar uma coisa, mas ao Inspetor Cruz (aguardava o dia em que cachaçaríamos, mas...): em 1º de fevereiro de 2010 eu fui vítima de sequestro — quer dizer, nesta madrugada, ao telefone calhordas disseram que estavam numa favela com a minha filha, aí me mandam sair de casa, a dos meus pais no Rio, com o celular... Bom, fiquei dez horas falando com eles, no maior terror. Ao mesmo tempo em que me extorquiam, extorquiam meus pais dizendo que estavam comigo no Paiol Velho, eu na mala dum carro. Meu filho com meu pai, os dois foram ao delegado da 021ª Delegacia, na Hilário de Gouveia, Copacabana, e ele entra em contato com o colega de Miguel, este delega um de vocês pra vir aqui e averiguar a ocorrência... Depois eu soube que vieram com escopeta e escambau. Você sabe disso? Inclusive, quando tudo já aquietado, exaurido ligo à Açucena avisando q’eu não tinha sido sequestrado — que fora um suposto —, por que, se você, Inspetor Cruz, se você estivesse de plantão poderia passar à doutora qualquer coisa que talvez pudesse preocupá-la. Você soube deste caso? Outro dia, por acaso, no canal Futura eu assisti a um filme — Para atender, depois da identificação permaneça na linha — exatamente como me aconteceu. Revivi as horas de horror.

 
Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 29/07/2011
Alterado em 08/10/2011
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